... já é hora de reformularmos as falsas noções de que nossos cães nos vêem como suas “alcatéias” – com as referências ao cão “alfa”, ao domínio e à submissão – é uma das metáforas mais difundidas tanto para as famílias dos humanos quanto para a dos caninos. Ela possui a mesma origem dos cães: estes surgiram de ancestrais do tipo lobo, e os lobos formam alcatéias. Logo, afirma-se, os cães formam alcatéias. A aparente naturalidade desta transição é camuflada por algum dos atributos que não transferimos dos lobos para os cães: os lobos são caçadores, mas não deixamos nossos cães caçar para se alimentar* (são caçadores medíocres em relação a técnica do lobo). E, embora possamos nos sentir seguros com um cão na soleira do quarto de um bebê, nunca deixaríamos um lobo sozinho com nosso recém-nascido adormecido, quatro quilos de carne vulnerável.
No entanto, para muitos, a analogia com uma organização domínio-alcatéia é extremamente atraente, sobretudo, quando somos a parte dominante e o cão a submissa. Uma vez aplicada, a concepção popular de uma alcatéia perpassa todos os tipos de interação com nossos cães: comemos primeiro, o cão depois. Mandamos e ele obedece. Passeamos o cão, ele não nos passeia. Na dúvida de como lidar com um animal em nosso meio, a noção de “alcatéia” nos fornece uma estrutura.
(*) Um lobo caminha calmo e firme em direção a sua presa, sem quaisquer movimentos frívolos. As caminhadas de caça dos cães não adestrados são intermitentes, eles vagam para frente e para trás, aumentando e diminuindo a velocidade... pior ainda eles podem se distrair com sons ou ter uma repentina compulsão para perseguir uma folha que cai. As trilhas dos lobos revelam as suas intenções. Os cães perderam essa intenção... nós nos colocamos nesse lugar.
Refer. Bibliográfica: “Inside of a dog” – Alexandra Horowitz
Um comentário:
Muito bom o texto!
Postar um comentário