HUSKY SIBERIANO

Resistência - Fidelidade - Inteligência

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Movimentação do Husky Siberiano - Uma análise

“ MOVIMENTAÇÃO: a movimentação característica do Husky Siberiano é suave e aparentemente sem esforço. É rápida e ligeira sobre suas patas. Quando apresentado em exposições, deverá sempre ser de guia solta. Mostra um trote moderadamente rápido, exibindo assim um bom alcance nos anteriores e boa propulsão nos posteriores.Quando visto de frente e de trás, enquanto caminha, o Husky Siberiano não converge os membros numa trilha única (single tracking), mas à medida que a velocidade aumenta,os membros convergem gradualmente até que as almofadas plantares pisem sobre uma linha diretamente abaixo do centro longitudinal do corpo. Conforme as pegadas convergem, os anteriores e os posteriores movimentam-se para a frente sem que, nem os cotovelos, nem os joelhos virem para dentro ou para fora. Cada membro posterior se move para alcançar a pegada do anterior do mesmo lado. Enquanto o cão está em movimento, a linha superior permanece firme e nivelada. “ Como é entendido o ato de se movimentar? Talvez em um raciocínio rápido se chega a conclusão que movimentar-se não passa de uma mudança de lugar. Em termos gerais é mais ou menos isso. Todavia há um porém entre o ato de se movimentar e a mudança de lugar. Como se passa de um ponto ao outro em um determinado espaço se deslocando... mantendo o equilíbrio constante? Então, pode-se perceber que o ato de movimentar-se está associado a vários mecanismos de “dinâmica”, definições e “conceitos” que envolvem o “movimento” propriamente dito ou escrito. Pode-se iniciar assim: “...é a quebra de um equilíbrio pré-existente refeito posteriormente”. Seria mais ou menos isto e já se entraria no conceito de “movimento”. Corpo e Cérebro trabalham conjuntamente. Conforme Leon Hollenbick, no seu “The Dynamics Of Canine Gait”, a movimentação … “é uma seqüência de movimentos voluntários, coordenados, rítmicos e uniformes, destinados a locomover um corpo através de um determinado espaço durante uma certa fração de tempo”, ou seja, uma conclusão do ramo da física onde a matemática e a estética se unificaram para formalizar, além de um conceito cinófilo, uma definição “cinométrica” de movimento. No conceito da Física o “movimento” se caracteriza por uma variação de posição espacial de um corpo, objeto ou ponto material em um determinado tempo. Então, na definição tanto cinófila quanto física, três idéias se fundem: Força, Espaço e Tempo. Por definição a relação entre Espaço e Tempo, ou seja, a distância percorrida e o tempo gasto é chamada de “Velocidade”. A análise do movimento por si só, sem se preocupar com as causas e as conseqüências, ou seja, apenas com a sua descrição (cinemática) daria uma condição enganosa ao estudo da movimentação dentro da cinologia, porque estas condições de estudo não seriam completas ou conclusivas, pois se necessitariam de todas as causas e forças (dinâmica) que iniciam o movimento e de suas conseqüências, o cessar. Analisar um acontecimento dentro do movimento e a relação posterior é analisar a causa e o seu efeito. O segundo acontecimento é sempre a conseqüência do primeiro. No caso da movimentação do Husky Siberiano estes conceitos são extremamente importantes. Nesta breve introdução se pode ter uma idéia sobre movimentação, entretanto há uma particularidade dentro das movimentações de cães de raça pura: a tipicidade, o movimento típico ou por dedução, a construção de sua estrutura funcional. A mecânica de movimentação, no siberiano, se completa por um esforço mínimo... “a movimentação característica do Husky Siberiano é suave e aparentemente sem esforço.” ... Todos os componentes que envolvem a movimentação “suave” , sem sacrifício, tornando-a fácil se caracterizando por um consumo mínimo de energia e por seu modo de exercer esta “força” por um sentido inofensivo e cômodo deste movimento. Não se pode ter uma estrutura mal delineada e com desvios pois isto acarretaria deformações de movimento tornando a dinâmica desgastante e traumática já que ao tracionar e propulsionar, o siberiano seria inutilizado em seu fim de trabalho: puxar trenós, bem como outras atividades afins. “...É rápida e ligeira sobre suas patas!” Uma das características da raça siberiana é o poder de “tração”, muito antes de se pensar em “propulsão”. Tracionar é um procedimento único da raça siberiana... é puxar pelos anteriores, e isso é uma combinação da dinâmica dos metacarpos e falanges fornecendo bastante molejo ao movimento da força tratora e por sua maciez e agilidade na locomoção. Este conjunto deve ser potente dando ao siberiano uma justa força, rapidez e firmeza de tração. “...Quando apresentado em exposições, deverá sempre ser de guia solta.” O siberiano deve ser treinado como se a guia não existisse dando ao cão, em movimento na apresentação em shows, um sentido de liberdade. O cão, praticamente, deve saber o contexto da apresentação e o apresentador ter a exata sensibilidade da simbiose entre ele e o cão. “...Mostra um trote moderadamente rápido, exibindo assim um bom alcance nos anteriores e boa propulsão nos posteriores.” Muito pelo contrário do que se pensa o “trote”, uma andadura cruzada, na qual a propulsão e o alcance acontecem simultaneamente, onde o alcance é realizado pelo anterior contrário ao posterior que realizou este movimento (sic. Rachel Elliot – Dog Steps), é a única movimentação requerida nas pistas de show em julgamento. E o que significa “um bom alcance”? “...bom alcance” significa o movimento realizado pelo conjunto escápula e úmero com a distância do passo segundo seus anteriores. O segredo está no ângulo de 45° que a escápula alcança, em movimento máximo, com a horizontal do solo. A relação entre a posição do conjunto escapulo-umeral medido em seu ângulo, maior, menor ou igual a 90°, terá como conseqüência a amplitude do passo anterior. Uma angulação maior que 90º no conjunto escapulo-umeral trará uma posição de escápula maior que 45° e a amplitude do passo curto dando um aspecto de ombro aberto e cernelha alta com uma linha de dorso descendente e isto é muito peculiar em diversos exemplares. Ao contrário acarretará um passo de amplitude ampla dando um aspecto de ombro fechado com cernelha baixa com o úmero se aproximando de uma linha horizontal. O centro de gravidade muda neste dois aspectos. E a “boa propulsão nos posteriores”. A propulsão deve ser tal que esta força sustente a alavancagem do corpo. Há uma condição muscular neste contexto e um conjunto de forças que contribuem para esta ação e uma delas é a posição de ângulos entre o fêmur e o coxal. Quanto mais angulado mais força o cão terá e este ângulo terá 90°. Estas forças, absoluta e relativa, dão um aspecto padrão e deverão ser iguais e produzem o mesmo efeito dando assim, ao cão, um movimento típico. “...Quando visto de frente e de trás, enquanto caminha, o Husky Siberiano não converge os membros numa trilha única (single tracking), mas à medida que a velocidade aumenta,os membros convergem gradualmente até que as almofadas plantares pisem sobre uma linha diretamente abaixo do centro longitudinal do corpo.” Na verdade este ponto é um ponto importante na análise da movimentação do husky siberiano... a sua posição durante o seu movimento. Notadamente o siberiano não desenvolve velocidade suficiente, num primeiro momento, para convergir os membros ao centro longitudinal do corpo. A “trilha única ou rastro simples” (single tracking), em movimentação, deixam suas pegadas, uma atrás da outra, dispostos em uma mesma linha, embora aproximando da linha mediana não chegam a pisar sobre ela pois a velocidade está diretamente ligada a estas posições, ou seja, quanto mais velocidade... mais aproximação da linha mediana pois o ponto de equilíbrio, em velocidade, é mudado conforme um novo movimento.. Esta análise, quando visto de frente e de trás, é puramente estrutural, ou seja, se pede esta movimentação para poder notar aprumos (cotovelos, jarretes, etc) e, conclusivamente, tendências laterais, isto é, o “andar de lado”, o “caranguejar” – “crabbing” . Desta maneira e dentro de contexto se pede o andar em circulo para poder verificar a forma de como o siberiano cloca os pés nos apoios e verificar se não há o sobre-passo... o posterior apoiando-se adiante do ponto de apoio do anterior. Isso é uma falta muito grave em se tratando de animais tracionais. Pode-se analisar um siberiano em sua movimentação real mas nunca e um ringue de exposições. O que se pode verificar é um “potencial” movimento de tração e imaginá-lo por real. No contexto “Movimentação” analisado anteriormente, em postagens, podemos analisar o conceito contextual deste significado.
Por Leandro Jorge - Verkoiansk Siberians

terça-feira, 26 de abril de 2011

Angulações - Parte I - Escápula, Úmero, Rádio e Úlna

Para a análise construtiva e qualitativa da ação do movimento de um cão, as angulações e a estrutura de cada osso e músculo, à principio, precisa ser conhecido. A familiaridade com conceitos e definições, neste sentido, é de suma importância para o desenvolvimento desta análise.
Num primeiro momento os membros anteriores (membro torácico assim chamado também) adquirem um aspecto de deslocamento tracionado apresentando um ponto de vista importante no estudo da movimentação do cão em um sentido restrito mas de fundamental compreensão.
Todos os ossos da parte anterior como a escápula, úmero, rádio, ulna (cúbito), ossos do carpo, do metacarpo e falanges serão, em princípio, individualizados para uma melhor compreensão.

A Escápula, um osso plano, aproximadamente triangular apresenta duas superfícies, três bordas e três ângulos. O ângulo ventral é a extremidade distal ou articular que forma a cavidade glenóide, e a parte mais estreita que se une à lâmina estendida é referida como colo da escápula. A escápula interna, lateral e parte externa aderem os músculos que a sustentam e a movimentam. Duas fossas se apresentam iguais por uma elevação deste osso, a espinha da escápula, a parte mais proeminente. Este osso articula-se com o úmero, através de uma articulação chamada escapulo-umeral. Neste contexto aparece o ângulo ventral onde aparece a extremidade alargada e distal. A parte adjacente estreita, o colo, é o segmento da escápula ventral à espinha e dorsal à parte expandida do osso que forma a cavidade glenóide. Este ângulo ventral é a parte mais importante da escápula, em virtude da sua contribuição para a formação da articulação do ombro. A cavidade glenóide articula-se com a cabeça do úmero. Há pouca profundidade nesta cavidade. Podemos considerar uma eminência (elevação) na parte cranial desta cavidade chamado tubérculo supraglenoidal. Há uma leve inclinação denominado de processo coracóide. O músculo coracobraquial origina-se desse processo coracóide, enquanto o músculo bíceps do braço origina-se de tubérculo supraglenoidal.




A escápula deve ter uma posição de 45° em relação ao dorso (horizontal), enquanto que o úmero, de igual dimensão, deverá formar com ela um ângulo de 90°, o ângulo escapulo-umeral.
O prolongamento imaginário da crista da escápula até tocar o solo, indica o ponto mais distante a ser alcançado pelos dianteiros, isto é, indica a largura do passo para a frente. A posição ideal, ou seja, de 45 ° em relação ao dorso, permite um passo mais largo, conseqüência do maior arco descrito pela escápula. As vantagens desta posição, pode ser feita pela colocação da escápula em várias posições dentro de um quadrado. Observa-se facilmente, que numa posição de 45 °, a escápula é mais longa, oferecendo assim, uma superfície maior de inserção aos músculos, permitindo um passo mais largo, por descrever um arco maior e possibilitando uma maior força tratora.







Uma escápula colocada numa angulação maior que a horizontal, por exemplo, de 60° fica inferiorizada nesses aspectos e mais inferiorizadas ficarão, quanto maior for o ângulo referido, isto é, quanto mais se aproximarem da vertical.

Uma angulação inferior a 45°, ou seja, próxima à horizontal, traz prejuízos, principalmente, por alterar a inserção dos músculos, reduzindo a ação do molejo (quando pouco absorve os impactos da propulsão) e abaixa o cão para a frente.







O Úmero é um osso longo de secção ovalada em forma de um leve “S” que vai da escápula ao cotovelo. Articula-se com a escápula formando a Ponta do Ombro. Está localizado no braço (brachium). Esse osso contribui para a formação das articulações do ombro e do próprio cotovelo. A articulação do ombro é formada pela articulação da escápula com o úmero: a articulação do cotovelo é formada pela articulação do rádio e da ulna entre si e com o úmero. A extremidade proximal do úmero inclui a cabeça, o colo e os tubérculos maior e menor. O côndilo, na extremidade distal é formado pela tróclea, pelo capítulo e pelas fossas radial e do olecrano, que se comunicam proximalmente à tróclea através do forame supratroclear. Os epicôndilos medial e lateral estão situados sobre os lados do côndilo. O corpo do úmero localiza-se entre as duas extremidades.



A cabeça do úmero possui uma saliência que, quando abre o ângulo escapulo-umeral, ao ser dado o passo à frente, bate na escápula, limitando a abertura do passo. Funcionando como uma espécie de freio.

Uma prova fácil para determinar a boa angulação do ombro e o comprimento dos ossos que o formam, é o teste do triângulo, que consiste em baixar uma perpendicular imaginária da coroa da escápula (cernelha). Ela deve tocar exatamente a ponta inferior do úmero. Essa linha, juntamente com a escápula e úmero, formarão um triângulo perfeito. Outra linha, horizontal, tirada da ponta do ombro , tocará a primeira, exatamente na metade. Se os ângulos não forem perfeitos, o triângulo, não formará um retângulo perfeito.

Se o úmero for curto a linha ascendente em lugar de perpendicular , se inclinará para à esquerda e a linha horizontal cortará a descendente mais abaixo de seu meio.


Se a escápula for curta, a linha descendente se inclinará para a direita e a horizontal cortará a descendente mais acima da sua metade.

A natureza normalmente compensa a redução de um osso pelo o aumento do outro. Assim, a uma escápula curta corresponde, quase sempre, um úmero maior.

A inversa é verdadeira, pois desta forma, a soma do comprimento desses dois ossos será igual, alternando-se, apenas, a relação entre eles. O ombro ideal ocupa extamente toda a profundidade do tórax.

Assim, a coroa da escápula (cernelha) deve ser o ponto mais alto e a ponta inferior do úmero (cotovelo) deve ser o ponto mais baixo, coincidindo com a linha inferior do tórax (esterno).

A título de curiosidade podemos analisar tipos de ombros especiais nas seguintes condições: O ombro do terrier tem o aspecto de ser mais reto pelo encurtamento do úmero de forma que o arco do cotovelo trabalha acima da linha do peito . A escápula não deve ser reduzida em seu comprimento, nem colocada perpendicularmente.

Nos ombros dos dachschund, do Scottish Terrier e outros, cujo centro de gravidade é baixo, os ossos são de comprimento reduzido, de forma que, a ação do cotovelo seja exercida bem acima da linha do peito.

Ombros dos cães cujos padrões exigem o movimento de velocidade (corrida), o úmero é extremamente longo em relação ao comprimento da escápula. A velocidade e o impulso dos membros anteriores dessas raças (Greyhound, Whippet, Afghan, Saluky) provém do longo úmero, dos metacarpos inclinados e dos pés de lebre vistos anteriormente.

O Rádio atua como uma coluna suportando o peso do corpo. Une-se ao úmero, na sua ponta superior, e, na base, apóia-se nos ossos do carpo. Visto de frente, não deve o rádio ser redondo e sim oval, esta forma oferece maior resistência às forças que atuam sobre esse osso, todas elas, no sentido longitudinal, que é o movimento da perna. A cabeça do rádio, como a totalidade do osso, é mais ampla quando vista da superfície medial para a lateral. O corpo do rádio é achatado de modo que possui superfícies cranial e caudal e margens lateral e medial.

A Ulna é um osso de pequeno diâmetro, colocado atrás do rádio e com este forma o antebraço. Sua extremidade superior desvia-se um pouco para trás, formando a saliência, que se denomina cotovelo. Está na parte caudal do ante-braço e é um osso que ultrapassa o rádio em comprimento.

Quando a perna se movimenta para trás, essa saliência da úlna encosta no úmero e limita a amplitude do passo. A extremidade inferior da ulna adapta-se ao osso do carpo, denominado pisiforme, evitando que o metacarpo adote posição vertical. Temos então, para a ulna, duas importantes funções: limitar o passo para trás e impedir a perpendicularidade do metacarpo.

A composição rádio-úlna formando a perna direita, dá melhor indicação sobre a ossatura do cão. Se esta é forte, esse conjunto será robusto em relação ao resto do corpo. Cães com ossatura fraca terão esse conjunto fino em relação ao todo.

Quanto ao comprimento, deve igualmente o rádio-úlna, estar em harmonia com o todo. Se for muito alto, levantará o cão na frente, dando cernelha muito alta e, consequentemente, o dorso fugidio. O cão terá muito “brilho”, isto é, muito espaço entre a linha inferior do tronco e o chão, teremos, no caso, o cão “pernalta” e se for muito curto, poderá dar cernelha baixa e garupa alta, o cão terá pouco “brilho” e será curto de pernas.

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Angulações - Parte I - Introdução

Quando pensamos em medidas e angulações de cães como uma forma de mensurar movimentos e organizar estruturas, estamos tentando analisar o conteúdo prático do deslocamento funcional canino em um sentido linear de sua composição. A alteração de comprimentos e ângulos pode ser individual ou padronizada porque cada padrão racial refere-se ao cão e o remete a uma identidade própria para a realização de função específica. Os ângulos, nas definições cinotécnicas das medidas, nos leva a afirmar que cães que possuem ângulações ideais realizam, como forma de movimento e trabalho, a função em um esforço satisfatório menor que o que possue medidas angulares incorretas. Nesse sentido a tipicidade é muito importante para o exercício da função. A qualidade da forma típica é de extrema consideração no estudo das dimensões estruturais do aspecto de qualidade da imensa variação das raças no mundo. Há uma disposição num sentido uniforme onde os cães a ele pertence e, por consequência, devem ser encaixados. (ref.: Manual de Estrutura do CBKC). Esta parte abrange, definitivamente, os membros anteriores e posteriores. Neste sentido a maioria daqueles que observam uma estrutura canina no conteúdo dinâmico dão relativa importância as dimensões dos membros posteriores, isto é, ao atrativo da sua movimentação e ao papel propulsor do corpo, dando um aspecto de menor relevância aos membros anteriores na compreensão do movimento típico. Porém o trabalho dos posteriores e anteriores é de conjunto, de suma importância no movimento do cão porque se o primeiro exerce uma força propulsora, o segundo suporta o peso da metade anterior do corpo exercendo uma força locomotora chamada de "tratora", ou seja, exerce uma tração sobre o resto do corpo.


quinta-feira, 31 de março de 2011

Movimento e Andaduras - Generalidades e Considerações

Como já mencionamos anteriormente, o cão é um animal de trabalho e esse trabalho depende de sua capacidade de movimentar-se.


Em cinofilia, entende-se por movimento a locomoção, também chamada de andadura. O cão possui quatro formas básicas de locomoção: o passo, a marcha, o trote e o galope que serão mais adiante examinados.


Normalmente, em pista, os cães são apresentados em trote e às vezes a passo. É importante relembrar que as diferentes raças possuem diferentes movimentos que lhe são próprios e mesmo mais adequados, conforme sua conformação (biótipo). Nesse sentido é sempre interessante observar as dimensões do recinto, o piso, etc permitem a este ou aquele cão apresentações convenientes. Cabe lembrar que, independentemente de espaço, raças pequenas mudam mais rapidamente o tipo de andadura do que raças grandes.

Para julgamento pede-se basicamente dois tipos de movimento. Primeiramento é exigido um movimento de ida e volta, em linha reta. Neste movimento observa-se a manutenção dos aprumos (cotovelos, jarretes, etc), bem como tendências a andar de lado (“crabbing” ou “passo de carangueijo”). Em seguida pede-se o movimento em círculo. Neste movimento observa-se o comportamento da linha superior, a forma de levar (porte) a cabeça e a cauda. Observa-se ainda o alcance de solo, isto é, a facilidade de progressão do animal, isto é, o seu rendimento sem esforço.


No círculo pode-se ainda verificar a forma como o cão coloca os pés nos apoios, sendo considerado como falta o chamado “sobre passo”. No sobre passo o posterior apóia-se adiate do ponto de apoio usado pelo anterior do mesmo lado. É considerado defeito porque pode interferir na progressão normal e, geralmente, indica falta de balanceamento.


Este termo, balanceamento, significa harmonia entre a conformação dos posteriores e anteriores. De modo geral está ligado as angulações, considerando normais as proporções de altura e comprimento. Obviamente, o critério de avaliação do balanceamento varia de raça para raça.


Frequentemente, por ingenuidade ou por malícia ou, ainda, por dissimulação, o apresentador (handler) pode manter a cabeça do animal em posição inadequada para a movimentação própria da raça. Em caso de dúvida, solicita-se movimentar o cão com guia solta.


Lembre-se que ao parar, o animal às vezes, busca um apoio melhor. Nestes casos frequentemente abre os pés (anteriores, posteriores ou ambos). Em caso de dúvida, peça ao apresentador um passo ou dois à frente, dando ao cão a oportunidade de acertar (ou não) os aprumos.


A avaliação do cão em movimento é imprescindível e deve ser feita com o máximo cuidado pois, é neste momento, que todo seu potencial é mostrado, bem como, faltas ou defeitos que possam eventualmente estar minimizados pelo apresentador ao arrumar o cão em “stay”. A descrição que fazemos a seguir das diferentes andaduras do cão, foi transcritas do texto de David M Numamaker e Peter D. Blauner, incluso no no capítulo “Normal and Abnormal Gait” do livro clássico de ortopedia canina. Eventuais anotações estarão colocadas entre parênteses.


“Andaduras normais no cão: comumente usam formas de locomoção que podem ser divididas em dois grupos principais: as andaduras simétricas e as assimétricas. Nas andaduras simétricas como o passo, a marcha e o trote, os movimentos dos membros de um lado repetem os movimentos do lado oposto sendo os intervalos igualmente espaçados. Nas andaduras assimétricas como o galope, os movimentos de um lado não repetem os do outro e os intervalos entre os apoios não são espaçados por igual. Quando falamos de andaduras, um conjunto completo de passos é chamado de ciclo.”


Passo: o passo é um movimento simétrico em que o apoio é mantido pelo animal com os dois membros do mesmo lado paralelamente. O animal se move impulsionando o anterior e o posterior do mesmo lado enquanto distribui o peso no outro lado. É uma andadura comumente usada por cães de pernas longas e corpo compacto e permite o animal caminhar em linha reta para a frente, sem interferência entre os posteriores como pode acontecer no trote. A oscilação lateral do corpo condicionada pelo passo, parece ser melhor trabalhada por cães de pernas longas. O passo também é visto em cães cansados, fora de condições ou com problemas ortopédicos.


Marcha(1): a marcha tem sido descrita como a forma de locomoção menos cansativa e mais eficiente para o cão. Na marcha o cão nunca tem menos do que dois pés sobre o solo usualmente três e ocasionalmente os quatro (o movimento dos membros é em diagonal, isto é, anterior de um lado e posterior do outro, na mesma direção e, em seguida, ocorre o inverso). Na marcha o impulso para a frente é mantido pelos posteriores enquanto o peso do corpo é mantido principalmente pelos anteriores. Os anteriores também são usados para diminuir a velocidade e absorver choques. O tempo de contato do pé com o solo está em função do comprimento das pernas, ou seja, é maior nos cães de pernas longas e menor nos de pernas curtas. Há uma predileção nos cães de peerna curta por tipos de marcha que tem intervalo relativamente maior entre o apoio do posterior e o apoio do anterior do mesmo lado. Por essa razão não é usual ver cães pequenos em passo, ao contrário, uma configuração de trote parece ser a regra. Em cães de pernas longas a marcha assemelha-se ao passo. Há uma grande variação de forma segundo o tamanho e até mesmo variações individuais. Em geral, os cães pequenos apresentam as maiores variações.


Movimentos para baixo do pescoço e da cabeça estão associados ao impacto de cada um dos anteriores ao início de cada fase e, movimentos para cima, estão associados com a volta de cada membro. Portanto o pescoço e cabeça mostram dois picos em cada ciclo. (1) Há a chamada “Marcha Lenta” isto é, três pés permanecem no solo, enquanto o outro alcança ou propulciona. O alcance é feito pelo anterior correspondente ao posterior que propulsionou. É uma andadura lateral, de transição entre o passo e as andaduras mais rápidas e não deve ser confundida com a Marcha.

Trote: o trote é uma andadura simétrica que ocorre quando os pares de pernas, em diagonal, se movem simultaneamente e a duração de contato com o solo é ligeiramente maior nos posteriores. No trote, usualmente dois pés estão sempre no solo. Alguns cães, entretanto, tem fases de suspensão (sem nenhum apoio no solo), o que é chamado de trote voador (trote típico do pastor alemão). Cães de pernas longas e corpo curto tem dificuladade de trotar, pois os posteriores podem interferir com anteriores. Caranguejar (crabbing – andar de lado) é uma forma de evitar essa interferência, girando o corpo para que o posterior passe ao lado do anterior, assim o cão anda simultaneamente para a frente e para o lado (este movimento também pode aparecer em cães longos ou com defeitos de coluna – linha superior – quando o impulso dos posteriores não alcançava por igual os anteriores).


A diferença entre o trote e a marcha envolve o aumento do movimento vertical do corpo, especialmente cabeça e pescoço, bem como aumento dos movimentos das articulações, principalmente ombro, cotovelo, carpo, joelho e tarso. Ao contrário da marcha, a flexão do joelho pode ocorrer na fase intermediária do passo (em resumo tudo é mais rápido do que na marcha) Pescoço e cabeça tem dois picos.


Galope: o galope é uma andadura assimétrica usada para locomoção em alta velocidade. Existem dois tipos básicos de galope no cão: o galope transversal, semelhante ao do cavalo e o galope rotatório, que parece ser o preferido pelos cães.


O cão pode manter o galope em duas velocidades, o galope “lento” (leve) , conhecido como “canter” (2) que representa uma andadura que pode ser facilmente mantida por um longo tempo e, galope rápido que pode ser mantido por curtos períodos de tempo. No galope a fase de apoio diminui e a duração do impulso aumenta em comparação com a marcha ou o trote. Períodos de suspensão ocorrem após a retirada do anterior (que marca o ciclo) do solo.


(2) Canter: Constitui uma modalidade similar a um galope combinado com o trote, é conhecido, também, por “Lope”. Processa-se da seguinte maneira: uma propulsão, seguida de outra propulsão e alcance cruzados, e um alcance... Andadura característica de Huskies em trabalho sendo considerado o movimento de velocidade média do siberiano. É entre esta andadura e o trote, andadura anterior, que o siberiano realiza seu “single tracking”(rastros simples), não confundir com o “parallel tracking” ou “doble tracking”. É uma andadura rápida intermediária entre o trote e o galope, de suspensão simples.


Alguns animais selecionados pela velocidade, como o Greyhound podem mostrar duas fases de suspensão em cada ciclo, a primeira ocorre após a retirada dos posteriores do solo, em um arremesso (coluna extendida) e a segunda após a retirada do anterior do solo (coluna flexionada).


A cabeça e o pescoço, no galope, tem apenas um pico. O maior movimento da cabeça para baixo é acompanhado pelo alcance maior dos anteriores para a frente . O movimento da cabeça para cima corresponde ao arqueamento da coluna e ao movimento dos posteriores para baixo do corpo preparando a colocação dos pés.


Efeitos da Conformação e Locomoção:


No reino animal o cão doméstico apresenta a maior variedade de tamanho e forma vistos em uma mesma espécie. Diferenças de magnitude de massa existem entre um Mastiff e um Chihuahua. Grandes diferenças de conformação anatômicas podem ser vistas quando comparados um Dachshund e um Borzói. Certamente essas diferenças influenciam significativamente certos parâmetros da locomoção. Assim é difícil caracterizar a locomoção normal do cão, mesmo porque a comparação entre diferentes raças mostra que o movimento “normal” de uma não é pertinente a outra.


Em repouso o animal apóia-se igualmente nos quatro membros. Quando o animal ganha velocidade ele tem menos apoio. Assim, os membros movem-se em direção ao centro de gravidade que fica para a frente do animal. O tipo de movimento denominado “single tracking” é então usado para evitar ou diminuir as oscilações laterais do corpo e garantir suporte contínuo do centro de gravidade. O grau de convergência dos membros em direção a uma linha central sob o plano mediano do corpo, depende da velocidade e da conformação do animal. Animais longos e de centro de gravidade baixo, como o Basset Hound, não fazem “single track”. Cães como esse normalmente movem-se com um pronunciado “roll” lateral que é considerado defeito em outros cães com membros longos.


A conformação ideal entre anteriores e posteriores (balanceamento) oferece normas gerais de avaliação de desvios (defeitos). Por exemplo, um ângulo maior do que 45° para a escápula diminui a extenção do anterior enquanto que, um ângulo menor reduz a eficiência do movimento. No posterior, ângulos menores da pelve afetam o movimento dos membros e, maiores reduzem o efeito propulsor por diminuírem a efetividade do arco espinhal (maiores ou menores em função do ângulo ideal desejado para a raça).


Pure Breed Dogs - 2003 - Glover, Harry - Irewin Copplestone Dog Standards Illustred -1977 - Wagner, Alice - Howell Book House, Inc. Dog Locomotion and Gait Analysis – Curtis Brow Dogsteps – A New Look – 3ª Edition Ilustração adaptada de Siberian Husky - The Family Album - Debbie Meador Tradução, Pesquisa e Edição - Leandro Jorge - Direitos reservados.

sexta-feira, 25 de março de 2011

Cauda

A cauda corresponde à porção final da coluna vertebral. É formada pelas vértebras caudais e coccigeas. O número de vértebras caudais é muito variável conforme a raça. Anatomicamente considera-se em média de 20 a 23. O comprimento e o diâmetro de cada uma dessas vértebras diminui da raiz para a extremidade. Igualmente sua estrutura vai se tornando mais simples. Nos cães de cauda naturalmente curta é comum as primeiras vértebras caudais se atrofiarem, dando à cauda um aspecto retorcido (Boston Terrier por exemplo).

Quanto a posição assumida pela raiz da cauda, falamos de inserção alta ou baixa. O porte da cauda diz respeito a maneira como ela é levada, principalmente na movimentação e está sempre relacionado a horizontal (coluna vertebral) podendo ser acima, abaixo ou ao mesmo nível.

As diferentes formas, reta, enroscada, grossa, afilada e assim por diante, bem como as características de pelagem que as reveste são características raciais descritas no padrão. Assim, também, as caudas amputadas cuja exigência e, mesmo, tamanho fazem parte do padrão. Esta amputação está relacionada a raças que normalmente apresentam caudas muito longas e volumosas que interferem na dinâmica desejada. A impossibilidade de alterar esses aspectos pela relação levou a necessidade de amputá-las.

Conclui-se, portanto, que as funções da cauda estão particularmente relacionadas à dinâmica de cada raça. Podem ajudar a manter o equilíbrio funcionando como um leme nas mudanças de direção. Ajudam a repor o centro de gravidade em posição seja nos movimentos laterais, seja na interrupção súbita da marcha. Podem, ainda, servir como auxiliar no momento do animal levantar-se.

A cauda por fim, também está muito relacionada ao temperamento ou, pelo menos, ao estado emocional do cão. Conforme a posição assumida revelam alegria ou disposição, timidez ou covardia e, até agressividade. Sob este aspecto, deve-se estar atento antes de opinar de forma definitiva sobre um porte incorreto. Estados de intensa alegria ou tensão (pré-agressividade) tendem a levantar a cauda acima dos níveis normalmente desejados em alguns padrões raciais.

Pure Breed Dogs - 2003 - Glover, Harry - Irewin Copplestone
Dog Standards Illustred - 1977 - Wagner, Alice - Howell Book House, Inc.
Dog Locomotion and Gait Analysis – Curtis Brow
Dog steps – A New Look – 3ª Edition
Ilustração adaptada de Siberian Husky - The Family Album - Debbie Meador
Tradução, Pesquisa e Edição - Leandro Jorge - Direitos Reservados

quinta-feira, 24 de março de 2011

Membros Posteriores

A principal função dos membros posteriores é gerar a força de propulsão que resulta no movimento do animal. Os ossos que formam o esqueleto do membro posterior ou traseiro são: coxal (também chamado de pélvico), fêmur, patela, tíbia e fíbula, tarso, metatarso e falanges, isso, em linhas gerais. O coxal é na realidade formado por três ossos: o ílio, que é o maior deles, o ísquio, que é o mais caudal e forma a ponta da nádega e o púbis, na região mediana. Esses ossos fundem-se formando um conjunto único. No ponto de fusão forma-se uma cavidade na qual se articula a cabeça do fêmur que é chamado de acetábulo. Essa articulação é conhecida como articulação coxo-femural ou da cadeira. O coxal, de um lado, une-se ao do outro pela bordas internas do púbis – sínfise pubiana – esta articulação é feita por cartilagem e, nas fêmeas, “abre-se” no período final da gestação o que pode causar alterações no movimento. O conjunto dos coxais forma a bacia óssea que associada ao sacro constitui a base da região da garupa. O sacro, na realidade é formado pelas vértebras sacrais que no cão são em número de três que se fundem completamente formando uma única peça.

O coxal, portanto, articula-se com o sacro (articulação sacro-iliaca), e dessa forma a força oriunda dos membros porteriores (propulsão) passa diretamente para a coluna vertebral e daí para os anteriores. Em função disso, o ângulo que o coxal forma com a coluna é muito importante pois alterações do mesmo (conforme a raça) podem prejudicar a transmissão da força propulsora. Esse ângulo é medido por meio de uma linha que acompanha o eixo maior do coxal, a partir da ponta da nádega e outra horizontal correspondente a coluna. Anatomicamente é considerado como ideal um ângulo de 30°. Esse ângulo permite ainda que uma linha perpendicular ao solo, tangente à ponta da nádega passe, se os outros ângulos estiverem corretos, pelo raio ósseo determinado pelos ossos do tarso e metatarso – jarrete que também deve ser perpendicular ao solo. Sendo assim o peso do membro recai sobre a almofada plantar, garantido o equilíbrio estático e facilitando o trabalho muscular. Como se pode deduzir essa linha marca, portanto, o aprumo do membro posterior. Em um animal bem aprumado, os posteriores vistos de trás devem ser paralelos entre si e acompanhar os anteriores. Como o ângulo formado pelo coxal com a coluna marca a posição da garupa é óbvio que alterações do mesmo levarão a defeitos de garupa ou a particularidades de uma ou outra raça. Assim, ângulos menores do que 30° levam a garupa plana e, maiores a garupa caída modificando a terminação da linha superior do animal. Ainda mais, dadas as relações da garupa com a raiz da cauda, pois ao sacro seguem-se as vértebras caudais, alterações da garupa consequentemente altera a posição da cauda. Grupas planas condicionam caudas de inserção alta e levadas acima da linha horizontal. Garupas caídas levam a cauda de inserção baixa e, em geral, levadas abaixo da linha horizontal. Além disso, enquanto defeito e não característica racial, alteram os outros ângulos articulares do membro, levando a defeitos de aprumos, tais como joelhos para fora e jarrete de vaca (garupa caída), joelhos “retos” e falta de paralelismo (garupa plana)e etc. Em conseqüência, também alteram o rendimento do trabalho muscular. Cães de coluna normalmente convexa (Whippet) não tem garupa caída, a ilusão é dada pela posição da coluna, mas se esta for retificada os ângulos desejados serão vistos. Podem, por outro lado, ter garupa caída e, neste caso, o sinal mais evidente, nestes cães, é a expulsão dos joelhos durante o movimento. Outros defeitos de garupa depende das dimensões ósseas que são as garupas estreitas ou muito largas. Em ambos os casos, o movimento é prejudicado pela alteração do posicionamento correto dos posteriores, Mais raras são as garupas curtas e muito longas, decorrentes das modificações do comprimento do coxal. Neste caso o movimento é prejudicado pela alteração do rendimento dos músculos que, partindo desse osso, alcançam o fêmur. Esses músculos, chamados genéricamente de íleo – femurais e ísquio – femurais são importantes colaboradores dos movimentos do membro posterior. Em seqüência encontramos o fêmur, que é um osso da região da coxa. Como já dissemos o fêmur articula-se com o coxal formando a articulação da cadeira ou coxo-femural. Idealmente esta articulação deve formar um ângulo de 90°, o que facilita a ação dos músculos coxo femurais que já comentamos. Na outra extremidade o fêmur articula-se com a tíbia. A tíbia e a fíbula são os ossos da perna. A articulação do fêmur e tíbia forma o joelho. Nesta articulação participa ainda um outro osso, pequeno e arredondado que é a patela (ou rótula) . A patela além de dar inserção a forte musculatura da região anterior da coxa, também limita o movimento da tíbia para a frente, na extenção da articulação do joelho. O ângulo ideal desta articulação também é igual a 90°. Esse ângulo favorece muito a ação do músculo gastrocnêmio; este músculo corresponde a nossa “barriga da perna”, origina-se no fêmur e se insere no calcâneo, um dos ossos do tarso, isto é, o que forma a ponta do jarrete. Essa disposição faz desse músculo o principal responsável pela flexão do joelho e retira o membro do solo pelo levantamento do tarso. Assim sendo, é de primordial importância no movimento do membro posterior.


A região do tarso, portanto, merece especial atenção porque, juntamente com o metatarso constitui o que se chama de jarrete. A importância do jarrete, claro, está relacionada ao trabalho do músculo gastrocnemio. Em princípio o jarrete deve ser perpendicular ao solo. Sua altura e, particularmente, o comprimento do metatarso estão na dependência da raça ou do tipo do cão e devm ser proporcionais ao conjunto carpo – metacarpo. Um jarrete excessivamente alto encurta o músculo gastrocnemio e altera o seu ângulo de inserção. Atenção: normalmente, no jarrete alto todo o conjunto é longo pois neste caso a movimentação é rápida mas pouco produtiva. O animal anda com os posteriores saltitando. Quando o jarrete é muito baixo o músculo torna-se mais longo e acompanha aproximadamente o raio ósseo. A movimentação é lenta e pouco produtiva, isto é “arrastada”. Outro problema sério são os chamados “jarretes de vaca”. Neste caso os jarretes estão fora de aprumo, sua pontas se aproximam e os pés em consequência voltam-se para fora. Na contração muscular ao invés do membro ser dirigido totalmente para a frente, ele devia-se para o lado e, portanto, o movimento é pouco produtivo. Quase sempre os jarretes de vaca são decorrência de garupa ou má angulações de joelho. Aliás joelhos mal angulados produzem resultados na movimentação semelhantes ao apresentados por jarretes na altura inadequada. De fato, alterando o comprimento e a posição do músculo gastrocnemio, os joelhos muito angulados tem efeito semelhante ao jarrete alto e ao contrário, os poucos angulados (joelho reto ou inaparente) ao jarrete muito baixo. A estrutura dos pés é semelhante ao dos anteriores. Sua forma é descrita nos padrões. Quando não forem apontados diferenças a forma dos pés é semelhante nos anteriores e posteriores. Considerando em conjunto, o membro posterior, a maneira dos anteriores, funciona como um pêndulo. Como já foi comentado esse movimento resulta na economia de trabalho muscular. Para que haja equilíbrio na ação dos músculos flexores e extensores e, para que o impulso, no contato com o solo, seja rapidamente transmitido se exige bons aprumos e angulações corretas. No membro posterior o eixo de oscilação desse pendulo ideal corresponde a articulação coxo-femural pois, cabe lembrar, a articulação sacro-ilíaca é praticamente fixa, servindo mais como ponto de trasmissão da força propulsora para a coluna vertebral.


Pure Breed Dogs - 2003 - Glover, Harry - Irewin Copplestone Dog Standards Illustred -1977 - Wagner, Alice - Howell Book House, Inc. Dog Locomotion and Gait Analysis – Curtis Brow Dogsteps – A New Look – 3ª Edition Ilustração adaptada de Siberian Husky - The Family Album - Debbie Meador Tradução, Pesquisa e Edição - Leandro Jorge - Direitos reservados.


quarta-feira, 23 de março de 2011

Linha superior ou linha inferior

A linha inferior é dada pelas linhas inferiores do tórax (esterno) e do abdômem (ventre). Em algumas raças essas linhas seguem sem um ponto nítido de transição. Em outras , a linha inferior apresenta uma ligeira concavidade após o esterno. Em algumas raças essa concavidade é muito acentuada, como no caso dos galgos. Em qualquer destes casos a transição da linha do esterno para a do ventre deve ser plástica e harmoniosa, isto é, sem quebra brusca que dê solução de continuidade é linha inferior. Cadelas que já tenham parido podem apresentar a linha inferior alterada pelo desenvolvimento das mamas (a reversão nunca é total). Dentro dos limites, este fato não deve influenciar no julgamento.

A linha superior é determinada pelas porções torácicas e lombar da coluna vertebral. A rigor a garupa também deveria ser incluída mas normalmente é descrita com os membros posteriores. Em termos de estécica sua função é sustentar o peso do corpo e dos órgãos contidos nas cavidades torácicas e abdominal. O conjunto da coluna, mais as costelas, o esterno e os músculos abdominais, é construído de tal maneira que as forças de pressão e tensão se anulam, como na fuselagem de um avião. Esse tipo de construção permite que o papel de sustentação seja exercido com o mínimo de desgaste energético.

Do ponto de vista dinâmico, a coluna vertebral funciona como eixo de condução de impulsos dados pelos membros posteriores para o conjunto dos anteriores, dessa mmaneira quanto melhor a sua conformação mais facilmente é levada a força de propulsão e tanto mais rendoso e econômico será o movimento. É claro que nada adianta a coluna ser correta se os anteriores forem, por exemplo mal angulados ou deslocados pois, neste caso não poderão dar a resposta desejada ao impulso transmitido.

Em geral a linha superior é retilínea, com freqüência mostra-se descendente desde a cernelha até a garupa. As vezes essa linha descendente é bem acentuada, como acontece em alguns cães de caça e um bom exemplo é o Cocker Spaniel Americano, essa descida acentuada (sporting back) deve-se a posteriores acentuadamente angulados e permitem ao animal iniciar o movimento com grande impulso. Durante a movimentação, entretanto, ela deve manter-se na horizontal. Excepcionalmente a linha superior deve ser ascendente da cernelha para a garupa como o fila brasileiro.
Como defeito, a linha superior pode mostrar-se curva, convexa ou côncava. No caso de convexidade da linha superior, falamos em dorso carpado ou de camelo. A linha superior côncava leva ao que se chama de dorso selado. Em ambos os casos a transmissão da força propulsora é prejudicada perdendo impacto até alcançar os anteriores, nestes casos, o animal anda de lado (caranguejar). Em termos de ilustração, o animal anda mais depressa atrás do que na frente. Isso também acontece em cães anormalmente longos. Devemos lembrar que esse alongamento se faz quase sempre na região lombar (flanco longo). Isso acontece como já vimos, as vértebras lombares não possuem apoio (os torácicos tem as costelas como suporte e, as sacras que se seguem são apoiadas pela bacia).

Pure Breed Dogs - 2003 - Glover, Harry - Irewin Copplestone
Dog Standards Illustred - 1977 - Wagner, Alice - Howell Book House, Inc.
Dog Locomotion and Gait Analysis – Curtis Brow
Dogsteps – A New Look – 3ª Edition
Ilustração adaptada de Siberian Husky - The Family Album - Debbie Meador
Tradução, Pesquisa e Edição - Leandro Jorge - Direitos reservados.

segunda-feira, 21 de março de 2011

O Abdômem

O segundo segmento do tronco do animal é chamado de abdômem e fica compreendido entre o tórax e os posteriores. É delimitado na parte superior pela porção lombar da coluna vertebral, constituída por sete vértebras. Também aqui, a região lombar mais longa ou mais curta, depende do tamanho das vértebras e da coesão dos ligamentos e não do número. As paredes laterais do abdômem são genéticamente chamados de flancos.

A região lombar, em termos de coluna vertebral, é o segmento que permite ao animal movimentos rápidos de lateralidade, para mudança de direção. Assim sendo, animais de velocidade ou que necessitam desse tipo de mudança rápida como os pastores em geral, devem ter essa região longa e, consequentemente o flanco será mais longo ou aberto. Por outro lado, a região lombar curta garante maior firmeza e estabilidade sendo, por isso, característica dos animais de força que, então, apresentam flancos curtos ou fechados.

As denominações “aberto” e “fechado” decorrem da presença de uma ligeira concavidade (vazio do flanco), característica da porção superior das paredes abdominais. A linha inferior do abdômem é chamada de ventre.

Pure Breed Dogs - 2003 - Glover, Harry - Irewin Copplestone
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Ilustração adaptada de Siberian Husky - The Family Album - Debbie Meador
Tradução, Pesquisa e Edição - Leandro Jorge - Direitos reservados.

Regiões da coluna vertebral - Esquema

Fonte: Siberians Huskies - The Family Album
Top Producer by Debbie Meador
Another Denlinger Book - Ed 1985
Adaptação, Desenhos e Edição: Leandro Jorge
Direitos Reservados

domingo, 20 de março de 2011

Tórax

Ao tórax corresponde a porção torácica (ou dorsal) da coluna vertebral, formada por 13 vértebras as quais se articulam treze pares de costelas que por sua vez unem-se a porção inferior a um conjunto osteocartilagineo chamado esterno.

Em síntese, a forma final da caixa torácica é dada pelas costelas cuja curvatura deverá ser adequada a cada raça. A falta de uma curvatura correta (costelas chatas) levará a um tórax estreito e seu excesso (costelas em barril) a um tórax largo ou arredondado (tórax em barril). As conseqüências mais séries estão relacionadas ao apoio oferecido aos ombros e já foram comentados. Não podemos esquecer a eventualidade do tórax ser bem formado mas pequeno para o animal, os resultados serão semelhantes ao de um tórax estreito, além da falta de antepeito. Lembro que as costelas não atingem diretamente o esterno, a união é feita por cartilagens (cartilagens costais), assim, pode acontecer das costelas terem boa curvatura mas a cartilagem ser reta e descer verticalmente para o esterno... é o chamado tórax em quilha e, em conseqüência, falta apoio ao cotovelo. O esterno é formado por um conjunto de 8 peças ósseas (esternébras) unidas por cartilagem. Na porção posterior apresenta um prolongamento cartilagineo chamado de apófise xifóide e, na porção anterior, outro prolongamento conhecido como apófise cariniforme ou carena. A carena tende a ser mais pronunciada nos cães de velocidade e mais curtas e largas nos de força. Nos patas curtas, como por exemplo nos dachshunds, ela também é pronunciada. Nestes últimos a função da carena bem desenvolvida é compensar o encurtamento dos membros, garantido o melhor equilíbrio do animal. O esterno também fornece superfície de inserção para os músculos peitorais, especialmente os peitorais anteriores que formam o antepeito.

Naturalmente, o aspecto final do tórax será dado pela musculatura que recobre e que deverá ser bem desenvolvida e de acordo com a estrutura óssea que a sustenta.

Além da largura do tórax e da forma adequada de curvatura das costelas (vê-se de frente e por cima), devemos também considerar a sua profundidade, isto nada mais é do que a altura do tórax, tomada ao nível da 5ª ou 6ª costela, logo atrás da articulação do cotovelo, por uma linha perpendicular ao eixo horizontal entre os pontos mais alto e mais baixo, se necessário é também a esse nível que se mede o perímetro (circunferência) do tórax.


Pure Breed Dogs - 2003 - Glover, Harry - Irewin Copplestone
Dog Standards Illustred - 1977 - Wagner, Alice - Howell Book House, Inc.
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sábado, 19 de março de 2011

Pés

Ainda que se tratando de membros anteriores, para os quadrúpedes em geral, prefere-se o termo “pé” ao invés de mão, anatomicamente mais correto. O cão é um digitígrado, isto é, apóia-se os dedos pois cada dedo é formado por três falanges – primeira, segunda e terceira. De modo geral os dois dedos centrais são mais longos. Em última análise, os pés sustentam todo o peso do corpo e ainda absorvem os impactos e transferem os impulsos, daí a importância de serem bem constituídos. Sua forma está na dependência do comprimento das falanges e da coesão maior ou menor dos ligamentos digitais; varia segundo a raça e a função de cada raça. Basicamente encontramos duas formas: pés de gato e pés de lebre. Os pés de gato são arredondados, de ossos curtos e ligamentos bem coesos, o que faz com que os dedos apresentem curvatura acentuada e se mantenham bem próximos entre si (pés fechados). Nos pés de lebre os dedos são mais longos, particularmente os centrais e os ligamentos são mais elásticos, garantindo a flexibilidade, a forma externa é oval. Existem naturalmente formas intermediárias.Igualmente podem ou não ser exigidos pelos entre os dedos; em geral, cães que trabalham em terrenos poucos firmes devem ter pelos entre os dedos (Saluki-areia) e mesmo pés ligeiramente abertos e ovais (Husky, Samoieda – neve) que garantam melhor apoio; ainda, as pregas de pele existentes entre os dedos (membranas interdigitais) devem em certas raças (Terra Nova) serem bem desenvolvidas, facilitando o trabalho na água.

Externamente, em correspondência às extremidades dos dedos encontramos formações fibrosas revestidas por pele modificada, as almofadas ou coxins digitais – em número de quatro – uma para cada dedo. Existe ainda em correspondência a região das primeiras falanges uma almofada única, central, chamada de almofada plantar ou palmar que, nesta concepção, tem a função de minimizar os impactos e garantir melhor aderência ao solo. Recobrindo a terceira falange aparecem as unhas (ou garras). Características de forma e cor das almofadas e das unhas deverão ser consideradas segundo o padrão racial.

Um último comentário. Embora o movimento dos cães dependa mais dos posteriores – Propulsão – em certas circunstâncias o papel principal pode ser dos anteriores – Tração. Isso pode acontecer por características especiais de terreno – ladeiras íngremes, solo lamacento ou arrastando pesos. Também em certas raças, nas quais a frente é muito desenvolvida em detrimento dos posteriores, como é o caso do Bulldog Inglês, os anteriores assumem preponderância na movimentação.



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quinta-feira, 17 de março de 2011

Membros Anteriores

Os membros anteriores possuem duas funções principais entre outras: fornecer apoio ao movimento que nasce dos posteriores (propulsão) e, acompanhando os movimentos de lateralidade do pescoço e cabeça, permitir a mudança de direção. Os ossos principais que formam o esqueleto do membro anterior são: escápula, úmero, rádio e ulna, carpo, metacarpo e falanges. A escápula corresponde a região dos ombros e sua ligação com o tronco é feita exclusivamente por músculos, não existindo articulação óssea (nos animais em geral, não existe a clavícula ou, quando muito, é apenas um resquício). A porção superior da escápula se completa com uma lâmina de cartilagem (coroa da escápula) que em correspondência com as primeiras vértebras torácicas forma a região da cernelha – ponto mais alto do corpo do animal, relacionado à altura que consta nos padrões raciais. Na outra extremidade a escápula articula-se com o úmero que é o osso do braço, formando a articulação do ombro (articulação escapulo-umeral). Na porção média da escápula, acompanhando o seu eixo maior, aparece uma crista óssea chamada de espinha da escápula, que basicamente serve para aumentar a área de inserção muscular e reforçá-la. O ângulo ideal mantido pela escápula em relação à coluna vertebral é de 45 graus; ângulos maiores tendem a verticalizar a escápula levando a cernelha muito proeminente ou, por compensação, a frentes retas devido a abertura da articulação escapulo umeral, ao contrário, ângulos menores tendem a horizontalizar a escápula e, nestes casos, teremos a chamada cernelha plana e aberta pois, as coroas escapulares estarão mais distanciadas em função da curvatura do tórax, sobre o qual os escápulos também podem a levar a defeitos de ombro. Por outro lado esses aspectos podem ser condicionados não por alteração de ângulos articulares mas por um deslocamento total do conjunto. De fato, não existindo articulações ósseas, há predisposição para que o ombro se desloque para a frente ou para trás (mais raro). De qualquer forma ficam alteradas as relações da escápula com o tórax, ainda mais, um ombro deslocado para a frente pode sugerir defeitos de pescoço, principalmente quanto ao seu tamanho e inserção, dando também a impressão de que o cão é longo demais e/ou não tem antepeito bem formado.
A articulação do ombro tem como ângulo ideal o de 90 graus. Considerando o ombro em posição, os ângulos mencionados de 45º e 90º permitem que uma perpendicular ao solo traçada a partir do centro da espinha da escápula caia exatamente no centro da almofada plantar, mantendo-se paralela aos ossos do antebraço, que são o rádio e a ulna (linha vermelha na figura abaixo). Essa disposição é muito importante pois permite ao animal manter-se em pé com o menor esforço possível, dado o equilíbrio de torres entre os músculos extensores e flexores. Na verdade este aspecto constitui o que chamamos de aprumos e a natureza procura mantê-los a qualquer custo, acomodando a escápula e o úmero à largura da caixa torácica ou, inclusive, alterando a forma final de alguns ossos longos, como no caso dos “patas curtas”, para que a perpendicular seja respeitada nos seus pontos extremos – centro da espinha da escápula e almofada plantar.

Visto de lado (famoso “side gait”), podemos notar que os cães de boa velocidade tal disposição permite que a articulação do cotovelo, entre o úmero e o rádio-úlna, seja colocada ao nível da linha inferior do tórax, ou mesmo um pouco abaixo, o que facilita os movimentos amplos necessários ao galope – por isso muito cuidado em falar em cotovelos soltos nos galgos em geral – ao contrário, nos cães baixos, a articulação do cotovelo, pelo encurtamento dos ossos, coloca-se acima da linha inferior do tórax e os movimentos são mais firmes porém de menor amplitude.
Considerando o movimento do membro como um todo, tais angulações e aprumos também resultam em economia de energia; de fato, neste caso, o membro funciona como um pendulo cujo centro ideal é o centro da espinha da escápula. Na realidade a escápula sofre apenas ligeira rotação, cabendo o efeito à abertura ou ao fechamento da articulação escapulo umeral; lembrando a relação do paralelismo entre a linha ideal e os ossos do antebraço vemos que toda a força de contato com o solo passa rapidamente para a raiz do membro. Além disso, se traçarmos uma linha acompanhando a espinha da escápula até o solo, podemos determinar o alcance máximo do passo do animal com um único movimento. Não é difícil deduzir que alterações dos ângulos articulares considerados vão influir nesse alcance. Assim, por exemplo, se o ângulo escapulo umeral for maior que 90º, o passo é mais curto mas a seqüência dos passos é mais rápida. Na maioria das raças é um defeito mas, em algumas, é desejável (Fox Terrier, dobermann). Ao inverso, um ombro muito fechado projeta a linha para mais longe do apoio. Teoricamente o alcance é maior mas, na prática, esse alcance é maior do que o próprio comprimento do membro que, assim, termina o movimento em pleno ar. Nesse caso o novo apoio far-se-a com impacto, o que cansativo e estressante que bate com a almofada plantares no solo (“padding”) ao invés de apóia-las harmoniosamente. Algumas raças apresentam movimentos especiais nos membros dianteiros; além das apontadas (passos curtos), o mais típico é o do Pinscher Miniatura em que todas as articulações, inclusive os dedos, flexionam-se exageradamente levantando todos os membros e resultando em passos curtos e rápidos. Esse movimento é chamado de “hachney” e está intimamente associado a estrutura do membro. Semelhante, porém não igual ao hackney é a chamda ação alta (high action). Neste caso, e é sempre defeito, o anterior não tem condições de compensar a propulsão dos posteriores. Para que os pés não se choquem (posteriores x anteriores), o animal retira rapidamente os anteriores do solo, levantando-os exageradamente mas sem as flexões acentuadas do “hackney”. Esta movimentação é vista como correta no Greyhound Italiano pela acentuada curvatura da coluna que, mesmo em movimento, não se desfaz totalmente. De qualquer forma ela também pode aparecer, transitóriamente, no início do movimento de qualquer raça de coluna convexa, mas desaparecendo à medida que a propulsão dos posteriores se equilibra com com a resposta dos anteriores e a coluna se acomoda. Nestes casos , a sua manutenção durante todo o movimento é defeito (em caso de dúvida faça o animal dar uma volta mais ampla). Ela também é insinuada no Ibizan Hound, no qual se pede um trote alto.
Devemos considerar agora a região do carpo e metacarpo. O carpo é constituído por duas fileiras de ossos, num total de sete e, como já mencionamos anteriormente, serve para dar maior flexibilidade a região (corresponde ao nosso punho) e amortecer os impactos que são transmitidos ao conjunto rádio-ulna e daí a raiz do membro. Externamente e na porção posterior, aí encontramos uma formação fibrosa, revestida de pele muito espessa, sem pelos, que é chamada de coxim ou almofada carpal, cuja função é proteger o carpo de choques com o solo, na eventualidade de flexões exageradas durante o movimento (principalmente em velocidade, quando o impacto é maior). Na seqüência temos a região do metacarpo (corresponde a nossa palma da mão) e é formada por quatro ossos (se não considerarmos o quinto dedo) que na realidade é o primeiro, o nosso polegar. O comprimento desses ossos varia conforme a raça, de modo geral, são mais longos nos cães de velocidade e mais curtos nos cães de força ou de anteriores e posteriores curtos. Considerados como um todo apresentam uma ligeira inclinação relativamente ao eixo do membro. Essa inclinação favorece o efeito de amortecedor do conjunto e sua alteração condiciona movimentos “duros”, se for muito reto ou, ao contrário, “pesados” se for muito inclinado. Algumas raças, entretanto, pedem metacarpos bem perpendiculares ao solo (Foxhound) ou nitidamente inclinados (Pastor Alemão). Muitas vezes é a este nível que notamos desvios de aprumos quase sempre decorrentes de problemas ao nível de ombros deslocados para frente ou tórax estreito, sem apoio para os cotovelos, exigem que o animal coloque os pés para fora para garantir o equilíbrio. Ao contrário, tórax muito longo (quando defeito) tende a afastar os cotovelos e os pés se voltam para dentro. Os desvios também podem acontecer por ligamentos pouco resistentes ou torções ósseas (em cães novos nos quais o tórax ainda não está totalmente desenvolvido ou os ligamentos são mais frouxos esses desvios devem ser cuidadosamente considerados). Finalmente temos as falanges, que são os ossos dos dedos e que veremos mais adiante.

Olhando o animal de frente, em movimento, notamos que a tendência dos anteriores é aproximar as extremidades. Isso decorre da procura de uma estabilização de tal maneira que o centro de gravidade se desloque em linha reta, de trás para frente, facilitando o movimento. Ao caminhar com os membros separados o centro de gravidade oscila também de um lado para outro, isso é normal nos movimentos mais lentos. Lembrar que nas raças de tipo compacto e tórax muito largo como o Bulldog por exemplo, essa aproximação é relativa, não devemos confundi-la com movimentos defeituosos em que os anteriores cruzam, passando de um lado para outro, quase sempre em decorrência de ombros e cotovelos mal colocados, inclusive por tórax estreito.

Pure Breed Dogs - 2003 - Glover, Harry - Irewin Copplestone
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sexta-feira, 11 de março de 2011

Pescoço

O pescoço corresponde a primeira porção da coluna vertebral. É constituído pelas vértebras cervicais que são sempre em número de sete; o maior ou o menor comprimento do pescoço está, portanto, relacionado ao tamanho das vértebras. Além de um complexo de pequenos músculos, mais profundos, encontramos na região do pescoço músculos longos que se estendem da cabeça até os ombros (músculo braquiocefálico) ou até o esterno ( músculo estermocefálico). Nesse sentido, além de ser o responsável pelos movimentos da cabeça, o pescoço também interfere no movimentos dos ombros, principalemente pela ação dos músculos branquicefálicos que, como se prendem aos úmeros, colaboram de maneira efetiva para levar o membro dianteiro para frente. Do ponto de vista da dinâmica o pescoço, modificando a posição da cabeça, desloca o centro de gravidade permitindo o movimento; no sentido inverso, colocando a cabeça para cima e para trás, repõe o centro de gravidade em equilíbrio e permite interromper o movimento, ainda mais, movimentando a cabeça para um outro lado, condiciona a mudança de direção do movimento. É por isso que em cães de velocidade pede-se um pescoço longo e, em cães de força um curto que garante a estabilidade. Para fins de julgamento, além do tamanho, também são considerados outros aspectos do pescoço; de modo geral sua forma é de um tronco de cone cujo diâmetro aumenta gradativamente da cabeça para o tronco. Essa passagem, chamada de raiz ou inserção do pescoço, deve ser plástica e harmoniosa com o conjunto de ombros e antepeito, revelando ação efetiva e adequada dos músculos cervicais. Sob este aspecto a inserção do pescoço pode ser prejudicada por ombros mal colocados como poderemos analisar mais adiante, sem que o sem que o defeito seja realmente do pescoço. São observados ainda, no julgamento, a linha inferior e superior do pescoço. Na linha superior temos a região da nuca, que é a transição com a cabeça, em correspondência com a articulação do occipital com a primeira vértebra cervical, chamada de atlas. Conforme a raça, a linha superior está retilínea ou com uma ligeira convexidade, quase sempre próxima a região da nuca (região nucal). Na linha inferior devemos lembrar a garganta que é, aqui, a transição com a cabeça, na parte posterior da mandíbula. Segundo a raça, nesta região podem aparecer pregas de pele chamadas de barbelas quando tem sentido longitudinal ou de papadas quando em sentido transversal.

Finalmente, devemos lembrar que o pescoço também é responsável pela maneira como é levada a cabeça (porte); a manutenção de uma boa posição de pescoço e cabeça está intimamente relacionada aos músculos e ligamentos , em especial o ligamento da nuca (nucal) que se extende da cabeça às vértebras cervicais e torácicas. Alterações do comprimento e elasticidade deste ligamento podem alterar inclusive a forma do pescoço, especilamente no que diz respeito a linha superior ( a inferior mudará como conseqüência), assim, por exemplo, um ligamento da nuca curto e rígido levará a um pescoço de convexidade exagerada – pescoço de ovelha – por outro lado, não se pode esquecer que o porte da cabeça poderá estar alterado com problemas relacionados ao membro anterior que, mais adiante será mencionado.

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terça-feira, 8 de março de 2011

Orelhas

Ao árbitro interessa, particularmente, a orelha externa, conhecida como pavilhão ou concha. Sua base estrutural é cartilaginosa e relaciona-se à cabeça por meio de músculos que a sustentam e servem, também, para movimenta-la. Externamente é revestida por pele (couro) e pelos. As características da cartilagem, pele e pelos que revestem são típicas das diferentes raças e descritas nos padrões.

O plano em que a orelha externa se relaciona com a cabeça é conhecido como “inserção” e, conforme o seu nível, pode-se falar em três tipos de inserção: alta, média e baixa. A inserção é dita alta quando o canto externo da orelha está acima do nível dos olhos (ex.: pointer, akita); é média quando está ao nível dos olhos (ex.: maltês); baixa quando está abaixo do nível dos olhos (ex. Cocker Spaniel, Setters). Como você pode “decifrar” isso: pelos cantos externos e internos da orelha, ou seja, o canto externo é a junção de seu bordo posterior ou externo ao crânio e fica próximo ao arco zigomático. O canto interno é a junção de seu bordo anterior ou interno ao crânio e fica próximo ao osso parietal. O tipo de inserção depende da forma do crânio, do arco zigomático, das características da cartilagem e do tipo de pele de cada raça.

Quanto ao porte as orelhas podem ser classificadas em: eretas, semieretas, semi tombadas, tombadas, em botão e em rosa, em uma classificação mais simples.

Em uma classificação um pouco mais complexa podemos nomear quatro tipos e seus sub grupos: Quanto a cartilagem, quanto a inserção própriamente dito, ereção e a pelagem. Neste contexto classificamos a cartilagem com forma, tamanho, espessura, consistência e integridade. Nesta suposição a forma da cartilagem poderia ser triangular, pontiaguda, arredondada e lobular. Pelo tamanho podemos sizer que a orelha possui um contexto largo, estreito, curto e longo. Orelhas finas, médias, espessas e grossas nos definiriam a espessura. Sobre a consistência relacionamos o tipo duro e o mole. Orelhas íntegras , cortadas ou amputadas dariam integridade a cartilagem ou não. A inserção foi descrita acima. Quanto a capacidade de ereção chamaríamos de orelhas inertes (desprovidas de ereção), as eréteis e semieréteis – botão, tulipa e em rosa. Finalmente quanto a pelagem teríamos as lisas, peludas e franjadas.

Nas orelhas eretas a concha mantem-se completamente com o interior do pavilhão à mostra (pastor alemão). Nas semi-eretas a cartilagem dobra-se para a frente no seu terço final (ou na metade); é clássica do collie e do shetland. Nas semi-tombadas a dobra da cartilagem é feita no primeiro terço junto a base (irish terrier). Nestes tipos de inserção é sempre alta.Nas tombadas, a cartilagem é mais delicada e todo o pavilhão dobra-se para baixo, a inserção pode ser alta (pointer) ou média (maltês) mas, quase sempre é baixa (basset).

Nas orelhas em botão a dobra é junto a base, são pequenas e voltadas para a frente (pug). Em rosa, são orelhas que sofrem duas dobraduras, uma longitudinal e outra transversal, com isso, dobram-se para trás e são justapostas à cabeça (bulldogue inglês). Particularidades são apresentadas em cada padrão racial.

Pure Breed Dogs - 2003 - Glover, Harry - Irewin Copplestone
Dog Standards Illustred - 1977 - Wagner, Alice - Howell Book House, Inc.
Guia para a Dissecção do Cão - Evans & deLahunta - Guanabara Coogan
Tradução, Pesquisa e Edição - Leandro Jorge - Direitos reservados.

terça-feira, 1 de março de 2011

Olhos


Ao examinar os olhos, os juízes, levam em conta a forma, a cor (em cães que o padrão exige), a posição e a expressão. De modo geral esses itens fazem parte das descrições de padrão racial e são próprios de cada raça. Relativamente à forma e posição, não se pode deixar de lado os aspectos ligados ao tipo, que já foi descrito, isso é de extrema importância em uma análise comparativa ao padrão. Alterações da forma e posição exigidas, geralmente são faltas graves e isso quase nunca é uma percepção simplesmente visual, pois implicam diretamente em modificações de toda a estrutura óssea do crânio (o globo ocular é sempre esférico). Assim, por exemplo, olhos redondos em um Afghan estão associados a crânio longo ou stop muito evidente; da mesma forma olhos achinesados (estreitos) em um Boxer decorrem de crânio estreito, testa fugida (inclinada), focinho longo e de pouca substância, e assim por diante. Relativamente aos olhos, também devem ser considerados, as pálpebras, superior e inferior, que são dobras de pele que servem para protegê-los. Os padrões costumam especificar a pigmentação desejável para a borda das pálpebras, bem como conjuntiva, que é a mucosa interna mas às vezes, isto é permitido ou mesmo desejado. Não se pode esquecer a terceira pálpebra – estrutura fibro cartilaginea localizada junto ao canto interno do olho. Quando distendida altera a expressão do cão.

Todos os aspectos anatômicos são classificados. Os olhos são observados quanto a sua inserção, ou seja, quanto a sua colocação: frontais, oblíqua ou laterais. Depois vem a inclusão: olhos profundos ou proeminentes. Os olhos são classificados, também, por sua forma; ou redondos, arredondados, ovais, amendoados ou triangulares. Os olhos são observados quanto a sua cor; escuros (pretos, castanhos escuros, avelã ou marron escuro e avelã ou âmbar), olhos claros. Alguns padrões determinam – Chesapeake Bay Retrevier, amarelos ou marron claro. Outros padrões permitem – olhos azuis (siberiano), azuis ou cinza (old english sheep dog), azul merle (shetland), amarelo (bloodhound, puli, etc). Alguns padrões toleram – Dogue Alemão, azuis. Dogue Alemão Preto, marrons claros. Dálmata, olhos âmbar. E, muitos padrões, desqualificam pela cor clara: olhos azuis – Pointer Alemão, Bernese, Fila Brasileiro, Malamute do Alaska, Komodor, etc. Ohos amarelos – American Water Spaniel, Briard. Há os olhos mistos na cor (partecoloridos), algumas raças permitem (siberiano) outras toleram . Há os olhos extremamente claros chamados de “Olhos de Porcelana”. Os chamados olhos de rapina são olhos onde o tamanho da íris permite que parte da esclerótica apareça. É sempre uma falta. Um árbitro analisa todos estes aspectos mediante a expressão do cão.

Pure Breed Dogs - 2003 - Glover, Harry - Irewin Copplestone
Dog Standards Illustred - 1977 - Wagner, Alice - Howell Book House, Inc.
Ilustração adaptada de Siberian Husky - The Family Album - Debbie Meador
Tradução, Pesquisa e Edição - Leandro Jorge - Direitos reservados.

segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Dentes


Os dentes são órgãos duros, resistentes, de estrutura complexa e cor esbranquiçada, que servem à preensão e dilaceramento dos alimentos. Doenças infecciosas ou carência de certos medicamentos, principalmente na fase da troca, podem alterar o aspecto dos dentes definitivos.
Na primeira dentição (de leite) o cão tem 28 dentes e, na segunda dentição (definitiva), o número de dentes é de 42. São 20 dentes na arcada superior e 22 na arcada inferior assim distribuídos:
Arcada superior: 6 incisivos – 2 caninos – 8 prémolares – 4 molares
Arcada inferior: 6 incisivos – 2 caninos – 8 prémolares – 6 molares

O único prémolar superior e o primeiro molar inferior são também chamados de “carniceiros” e são característicos da espécie; os incisivos, considerados aos pares em cada arcada são às vezes denominados de pinças (os laterais).



A falta de dentes constitui defeito mais ou menos grave conforme a raça considerada, e de acordo com as exigências dos padrões.

Outro ponto da maior importância é a oclusão dentária conhecida em cinofilia como “mordedura” e, é sempre verificada pela relação estabelecida entre os incisivos superiores e inferiores.

A mordedura mais comum é a chamada “em tesoura”. Neste caso os incisivos superiores sobrepõe-se aos inferiores, de tal maneira que a face interna daqueles fica justaposta à face externa destes. É encontrada nas maiorias das raças – cães pastores, cães de caça, cães nórdicos, etc, caracteriza-se por ser mais suave e mais segura do que o tipo a seguir, isto é, a mordedura “em torquês”, nestes casos os incisisvos se tocam pelas suas bordas livres. Esta mordida caracteriza-se por ser muito dilacerante mas é pouco segura. Aparece em alguns terriers (é necessário pelo tipo de caça) e, também, em alguns braquicéfalos, devido ao encurtamento do focinho.

Quando os incisivos superiores e inferiores se distanciam muito, temos os chamados prognatismos. Os termos prognatismo superior e inferior usados em cinofilia são inadequados mas, infelizmente, já estão consagrados mais pelo uso. O prognatismo superior (termo correto é retro ou braquignatismo, pois é a mandíbula que se retrai) é sempre defeito. O inferior, quando os incisivos inferiores ultrapassam os superiores tanto pode ser o tipo mordedura desejada, como pode ser uma falta grave. Em vários braquicéfalos é a mordedura ideal ou pelo menos, permitida.

Nos cães de focinho muito longo, não é raro vermos os incisivos superiores distanciarem-se dos inferiores devido à sua implantação, que é mais inclinada; isto não configura um prognatismo típico, da mesma maneira como desvios de um ou outro incisivo dentro do conjunto, não devem ser considerados como prognatismo.

Nas avaliações comparativas o tipo de crânio será, também, como referência. Tomando exemplos extremos: prognatismo superior num braquicéfalo ou, ao contrário, prognatismo inferior num dolicocéfalo, são sempre faltas muito graves, pois fogem as tendências do tipo.

Pure Breed Dogs - 2003 - Glover, Harry - Irewin Copplestone
Dog Standards Illustred - 1977 - Wagner, Alice - Howell Book House, Inc.
Ilustração adaptada de Siberian Husky - The Family Album - Debbie Meador
Tradução, Pesquisa e Edição - Leandro Jorge - Direitos reservados.